sábado, 7 de julho de 2007

A arte de viver (parte II)

Ao acordar, os remelentos olhos grudados pelas lágrimas do dia anterior ofuscavam-lhe a luz e a vitalidade. Após lavá-los, preparou um café, acendeu um cigarro e, estonteante, abriu a janela para debruçar-se e sentir a primavera entrar. Os coqueiros saudavam-lhe um bom dia chuvoso com um vento sudoeste que soprava sem cessar, fazendo-o pensar.
A verdade era que não adiantava mais viver pensando que sua vida sem ela era medíocre, pois o que via se desenrolando diante de seus olhos era a pura ilusão egoísta. No início, achava que não sabia o que fazer sem tê-la por perto e se sentia um urso polar vendo o derretimento de sua morada. Ela era o seu estigma. Um amor incomum que se sustentava a base de fatores terceiros que inibiam sua essência. A verdade absoluta não existia. O que existia sim era falta de serenidade, franqueza e ousadia que dificultavam-lhe as escolhas. Os olhos se arregalavam em busca de novos olhares, mas o pequeno mundo que o cercava ainda não se mostrava por inteiro. Os pecados já não eram assim tão pequenos como pareciam. Procurava outras cores no céu para enfeitar seu dia.
O mar estava agitado. A arrebentação era o expoente que curava-lhe a longo prazo. Se o mundo dá mesmo tantas voltas, porque é tão dificil assim voltar a viver como antes? será o tempo o principal fator de tamanha façanha? onde estará o espírito do tempo?